Obsolência Planejada

A obsolência planejada, como o próprio nome demonstra, trata-se de um processo de manufatura e industrialização cada vez mais pensando em criar coisas descartáveis, que não durem muito e que forçem ao comprador/consumidor trocar com certa freqüência seus produtos adquiridos, mesmo que em curto prazo, como TVs, celulares, aparelhos de som, móveis, roupas, calçados, e tudo mais... Mas para aqueles que, apesar disso, resistem ao tempo e ao próprio apelo consumista das propagandas nos meios de comunicação, há uma obsolência aparente, que é a própria propaganda maciça e massiva de marketing, e da fabricação de novos produtos que forçem esses usuários se sentirem jurássicos, com menos de seis meses de uso de uma aparelhos ou qualquer outro produto.
Que gera aquela sensação de desconforto, de pegarmos um aparelho de celular em público e demonstrarmos o quanto somos antiqüados perante nosso grupo social por não termos o celular da moda. Tenho o meu há quase 3 anos, e sinto na pele os olhares quando o saco da pasta ou do bolso. A mesma sensação que alguém que use ainda máquina datilográfica deve ter quando algum jovem não sabe o que é aquele mecanismo desconhecido para a geração USB. E olhe que sou um cara centrado na vida, nada afeito ao consumismo, mas sido que esse conceito de obsolência aparente colou na população, que precisa parecer perante a própria sociedade como alguém moderno. E daí, dá-lhe consumo e endividamento. Lembro que alguns dias atrás, recebi comentário neste blog da amiga e colega Elis Zampieri, editora dos blogs Sobre Educação e Etc & tal, de Curitibanos, Santa Catarina, Brasil (e que, como outros educadores, só conheço pelo ciberespaço, mas que usamos a tecnologia com esse sentido educacional). Em seu comentário, Elis deu-me razão a essa abordagem sobre o consumismo, quando foi a uma loja, procurando um aparelho celular que só falasse, e para surpresa sua, tal equipamento, segundo a vendedora, não existe.
Remeteu-me a passagem bíblica, em que o primeiro livro de Moisés, cap. 11, versículo 1, já dizia séculos atrás: "Mas todo mundo tinha o mesmo idioma e a mesma palavra...". Em pleno século XXI, apesar da diversidade étnica, cultural, econômica, política e até religiosa, a grande maioria da população mundial é refém do idioma chamado Consumismo, e a universalidade que se percebe é na palavra "consumir".
Tudo isso levou-me a fazer um link com notícia que vi hoje no portal Yahoo!, que tem muito a ver com o consumismo, a obsolência e o mundo em que vivemos, quando Setev Wozniak, co-fundador da gigante Apple decreta que o ipod, que recém foi lançado com estardalhaço no Brasil, para ele já era: obsolência planejada ou aparente?
Vejam a notícia na íntegra, logo abaixo
Era uma vez uma menina que seguinda uma estrada de tijolinhos amarelos para visitar a vovozínha, que tinha sido comida por um Lobo mau, que disfarçado de velha senhora, aguardava a menina para devorá-la... Era uma vez essa mesma história, quando no meio do caminho tocou o seu celular de última geração, com uma mensagem convidando-a para uma rave na casa dos três Porquinhos, e a menina mudou seu trajeto e a própria histórias dos contos de fadas... Brincadeiras a parte, leiam fragmento abaixo, extraído da referida notícia, e façam por si só suas conjecturas sobre A História das Coisas:
"Se é certo que a Apple continua a vender milhões de iPods por trimestre - tendo até mesmo se registado uma subida de 12 por cento nas vendas à unidade e de sete por cento nas receitas em comparação com o mesmo período do ano passado -, a verdade é que as alterações introduzidas recentemente pela empresa na sua linha de leitores de MP3 têm sido residuais e de simples cosmética. Por outro lado, as inovações em termos do mercado de leitores de música digital têm sido poucas ou nenhumas".
Outra referêcia que tudo isso me remete são as palavras de Tomaso di Lampedusa, autor de O Leopardo, quando escreveu que: "É preciso que tudo mude para que tudo se mantenha", o que pode ser interpretado como "É preciso mudar na aparência para que nada mude em essência". Já Karl Marx disse que "Em geral, a aparência é o contrário da essência". A cada seis meses todos os bens de consumo mudam em aparência, mas a essência do sistema consumista de pessoas e recursos naturais mantém-se intacta. Refletir é preciso; consumir nessa escala, não é preciso.
Texto : http://letravivadoroig.blogspot.com/
Autor: Zé Roig