Guerra Terceirizada



A partir da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos tem claramente revelado a tendência de terceirizar ao máximo a mão de obra e os serviços que uma guerra pode demandar. Atualmente o embate EUA x Iraque revelou ser o conflito armando mais terceirizado da história, tornando-se claramente, do ponto de vista econômico, uma guerra privatizada.


Para os americanos é muito mais interessante contratar empresas privadas e através delas soldados bem treinados, fora serviços de transporte, comida, armamento, uniforme, e construção a um custo bem menor.


As Companhias Militares Privadas,empregam atualmente no Iraque, cerca de 180 mil empregados, são eles que lavam a roupa, distribuem a correspondência e fazem a comida dos soldados. E se não bastasse, são eles que comandam os aviões não tripulados, os radares, os mísseis e até mesmo alguns navios americanos


Para se ter uma idéia, o segundo maior exército atuante no Iraque, depois do americano, é formado por mercenários, cerca de 25 mil homens, sendo a maioria originária da Venezuela, Bolívia, Chile, Peru, Honduras, Colômbia, Angola, Nepal, Somália, Sérvia, Ucrânia, entre outros. A preferência é clara nos ex-soldados da América Latina, uma vez que são mais baratos e muitos já possuem treinamento especializado, como é o caso dos colombianos no combate as FARCS. Os africanos vêm em segundo lugar, primeiramente pela experiência em conflitos urbanos e em segundo por estarem mais adaptados a conviverem em ambientes de terceiro mundo.



A principal empresa responsável pela contratação desses militares e ex-militares mercenários é a mundialmente famosa BlackWater, com sede na Carolina do Norte. São eles que recrutam os mercenários e muitas vezes os treinam no próprio país de origem e depois os alocam como agentes de segurança privada em lugares de alto risco. Em geral os são as empresas de mercenários que fazem a segurança das embaixadas, bases americanas e até efetuam prisões! Realizam a escolta de políticos e comboios do próprio exército americano. Além do mais, fazem a vigilância de aquedutos de petróleo de empresas internacionais.

Como bem sabemos no que tange sociologia, o Estado é o único com legitimidade do uso da força. Somente o Estado pode controlar os exércitos e as polícias, mas ao terceirizar tais serviços é como se o Estados Unidos dissessem claramente a BlackWater “hey, a partir de agora vocês também tem o uso legítimo da força.”


A vantagem é imensa, pois, se um mercenário morre, ele não é contado como uma baixa do exército americano, na verdade ele nem é contado, equipara-se a um funcionário do Mac Donalds com sede na Holanda que morre, ou seja, nada de mais, e isso distorce totalmente a realidade da guerra. Pior ainda ocorre quando um mercenário mata ou causa prejuízo a um civil iraquiano, como esse cidadão deve proceder? Simples, processando a empresa de mercenários. Certo, e qual a chances desse cidadão ganhar um processo, ou ainda, conseguir arcar com esse tipo de processo, diga-se de passagem, internacional? Zero, nula, nada.


Fora que, por serem mercenários, são considerados civis, ou seja, não podem ser julgados pela justiça militar, inclusive no contrato de alguns existe uma cláusula onde lhes é assegurado não serem julgados pela justiça local, ou seja, são foras da lei, super-homens, super-mercenários destruindo tudo na casa da mãe Joana. Sem contar que esses tipos de caso nunca são divulgados, já que, toda a informação que se tem do conflito do Iraque passa pelo departamento de imprensa do exército americano, e os repórteres na guerra são em geral de imprensas militares, e só relatam ações nas quais participam os soldados americanos, o que não inclui os mercenários.


Se não bastasse a impunidade desse tipo de ação, as empresas de mercenários, por meio de uma obscura rede de senhores da guerra, pagam indiretamente dezenas de milhões de dólares a grupos armados, em troca de proteção a comboios, esse tipo de atitude simplesmente financia aqueles que estão matando os soldados americanos, e sinceramente, isso chega a ser cômico, ou melhor é uma comédia dramática por assim dizer.


E o ciclo vicioso acaba sendo bem simples. Enquanto há guerras, há empresas privadas lucrando com as guerras, e enquanto há empresas privadas lucrando com as guerras, há guerras.
 
 Igor Leone.

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